quarta-feira, 18 de julho de 2012

~ 36 ~



Continuando a arrumar, o rosto de Vasco desenhava-se em cada objecto.
O seu sorriso. Os fios de cabelo despenteados. Num impulso, correu para o atelier e com rápidos mas precisos traços, o esboço nasceu sob os seus olhos. Eis o retrato de Vasco e, agora, Mariana ouvia, com nitidez, a sua voz, as suas palavras.
…Já não estava sozinha.
Aproximou a folha de papel a Tomás, que a cheirou e dirigiu-lhe:
"Vês? - e admirando , acrescentou: É bonito. é um rapaz bonito. Consegues também ouvi-lo, Tomás?"
E a resposta leu-a nos olhos oblíquos que o lindo gato ergueu.

Instalando-se, Vasco ligou o écran enquanto acariciava a cabeça de Smile e levava a cerveja à boca. Procurou concentrar-se, mas em vão.
Não se sentia bem. Algo em si reclamava. Que lhe atrofiava os músculos e, sobretudo, o cérebro. Ou não. Reclinou-se na poltrona e interrogou-se, passando as mãos pelo cabelo:
"Mas que raio. que diabo, pareço um miúdo!"
E esta descoberta fê-lo soltar uma sonora gargalhada que inundou o aposento, a primeira desde que vira Mariana afastar-se no parque de estacionamento.

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